sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Gota de Água



(Chico Buarque, 1975)

Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...

Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água
Pode ser a gota d'água
Pode ser a gota d'água....

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Esquerda "versus" Direita



Porque o prometido é devido, desenvolvo o “P.S.” deixado no blogue “Casa da Democracia: Qual?”
Faz sentido a velha divisão política entre esquerda e direita?
Defendo que não. Mas com despeito de toda a evolução conhecida pela humanidade em termos de políticas económicas e práticas “democráticas”, desde que estes dois conceitos – e a realidade que eles exprimem – foram criados no contexto da Revolução francesa, o facto inquestionável é que essa divisão ainda persiste (com consequências negativas, entendo).
De certa forma, ela ainda se aprofunda em alguns países. Não em todos, certamente, mas em vários de tradição social e sindical, os conceitos e os alinhamentos políticos dela derivados ainda encontram forte presença nos diversos cenários políticos, em especial na nossa Europa e na América Latina. Nos Estados Unidos e em certos países asiáticos, as realidades políticas parecem bem mais matizadas, tornando virtualmente impossível a classificação dos grupos segunda a divisão clássica esquerda “versus” direita. Em relação aos EUA, observadores estrangeiros acreditam que os democratas estariam mais à esquerda – em função, provavelmente de sua maior vinculação com os meios sindicais e com as políticas ditas de acção afirmativa – e os republicanos – identificados com o “grande capital” – seriam os representantes da “direita”, mas isso não faz o menor sentido para quem conhece a realidade social e política daquele país. Na Ásia e no continente Africano é aquilo que sabemos…
Resta a Europa e a América Latina onde grupos partidários, escolas de pensamento económico e actores sociais continuam a situar-se num espectro político que vai da extrema-esquerda à extrema-direita, mais na Europa do que na América Latina. Nesta ultima poucos querem ser, parece-me, de extrema-direita (veja-se a Teologia da Libertação). Aqui na velha Europa, os liberais pró mercado, com alguma contradição, reconhecem a importância do Estado sobretudo no que diz respeito às “desigualdades sociais”. Aqui parece estar, precisamente, a raiz da divisão histórica, ou clássica, que parece justificar a existência desses dois agrupamentos genéricos (dentro dos quais se encontram diversas “seitas”): A esquerda reivindica para si mesma, uma identificação com a resolução de determinados problemas sociais via fortíssima actuação do Estado e políticas indutoras de transformação; Ao contrário, os “liberais” ou direitistas, confiariam mais nas forças de mercado para que essa correcção se faça.
Na prática, A ESQUERDA SÓ É SOCIALISTA DA BOCA PARA FORA, como rótulo cómodo, ou ainda para retomar uma velha tradição de lutas sociais que supostamente está identificada com o combate às mazelas da época “gloriosa” do capitalismo, quando a burguesia triunfante tratava o proletariado como modernos escravos das galés, e ostentava a sua riqueza fumando charutos sobre um saco de dinheiro (esta é, pelo menos, a imagem clássica do capitalista sem alma).
O que a esquerda consegue ser de facto, é estatizante, por acreditar que o Estado é um instrumento útil e mesmo necessário para a correcção dessas mazelas sociais criadas pelo capitalismo, a começar pela desigualdade distributiva e pela existência de “desequilíbrios de mercado”, que importa corrigir pela “mão lúcida” do estado. Trata-se aqui do principal divisor de águas entre a esquerda e a direita, uma vez que esta última é mais propensa a acreditar nas soluções de mercado, como o meio mais justo, e inerentemente mais racional e eficiente, para redistribuir ganhos derivados do esforço individual.
Sim, aqui aparece outra característica distintiva: a esquerda é colectivista ou “social”, enquanto a direita prefere as liberdades individuais e a liberdade de iniciativa, com retenção de ganhos para o detentor dos “meios de produção”, ao passo que a esquerda privilegia a redistribuição da “riqueza social”.
Estes são, creio, os elementos centrais da tradicional divisão entre esquerda e direita. Como vivemos em regimes de escassez e de fortes desigualdades distributivas, que a esquerda atribui às estruturas inerentemente injustas da sociedade capitalista, e que a direita apenas credita a mecanismos de mercado, essa divisão promete continuar no futuro previsível, sem que alguma conciliação seja possível entre linhas tão díspares de concepção do mundo e da sociedade.
Agora, tudo o que escrevi é meramente conceptual. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Neste início do século XXI, os cidadãos afastam-se cada vez mais deste espectro, entre outras razões, porque não se identificam com ele.
Primeiro, a politica seguida pelos governantes não é carne nem é peixe. Por favor, não me venham dizer que o Sócrates e a sua corja são Socialistas!... Ou que é normal um estado injectar capital na economia privada para evitar (o agravamento) crises económicas!... Ou que é normal, tendo em conta o que escrevi, o sistema Chinês!...
Depois, quem pensa e não se identifica com estas governações e respectivas politicas, partilha, muito frequentemente, de valores que vão desde a extrema-esquerda à extrema-direita. E isto sim, é um facto que vai de encontro aquilo que penso, isto é, os conceitos esquerda e direita estão obsoletos, a não ser para quem governa. Está-se a criar um fosso abismal cada vez mais acentuado entre governantes e população.
Comecemos seriamente a pensar noutros, tipo…Norte e Sul ou …Cima e Baixo!

Bibliografia:
Roberto de Almeida, Paulo, “Revista Espaço Académico – N.º 59”, S. Paulo, Abril de 2006

Aljubarrota



(Quinta do Bill)
Instrumental

Chuva Dissolvente



(Xutos&Pontapés)

Entre a chuva dissolvente
No meu caminho de casa
Dou comigo na corrente
Desta gente que se arrasta.
Metro, túnel, confusão,
Quente suor vespertino
Mergulho na multidão,
No dia-a-dia sem destino.

Putos que crescem sem se ver
Basta pô-los em frente à televisão
Hão-de um dia se esquecer
Rasgar retratos, largar-me a mão.
Hão-de um dia se esquecer,
Como eu quando cresci.
Será que ainda te lembras
Do que fizeram por ti?

E o que foi feito de ti?
E o que foi feito de mim?
E o que foi feito de ti?
Já me lembrei, já me esqueci...

Quando te livrares do peso
Desse amor que não entendes,
Vais sentir uma outra força
Como que uma falta imensa.
E quando deres por ti
Entre a chuva dissolvente,
És o pai de uma criança
No seu caminho de casa.

E o que foi feito de ti?
E o que foi feito de mim?
E o que foi feito de ti?
Já me lembrei...
Já me lembrei, já me esqueci...

Fala do Homem Nascido



GALRITO
(José Niza/António Gedeão - Desculpem o Vesgo, mas o original não se encontra no YouTube)

Venho da terra assombrada
Do ventre de minha mãe
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci

Trago boca para comer
E olhos para desejar
Tenho pressa de viver
Que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo
Não tenho tempo a perder
Minha barca aparelhada
Solta rumo ao norte
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham
Nem forças que me molestem
Correntes que me detenham

Quero eu e a natureza
Que a natureza sou eu
E as forças da natureza
Nunca ninguém as venceu

Com licença com licença
Que a barca se fez ao mar
Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar
Com licença com licença
Com rumo à estrela polar

A Nossa Querida Língua Portuguesa!

Bem sei que esta é uma graçola batida, mas comprei hoje na FIC (Feira internacional de Carcavelos) um azulejo com a mesma para o afixar aqui na Taverna!..
Se o Mário ... Mata,
a Florbela ... Espanca,
o Jaime ... Gama
e o Jorge ... Palma,
o que é que a Rosa Lobato ... Faria?
E, já agora:
Talvez a Zita ... Seabra,
para o António Peres ... Metello...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Casa da Democracia: Qual?










Começo mal a semana.
Há pouco, aqui na Taverna, fiquei todo lixado com o Pedrosas da casa ali da frente por este ter se gregoriado todo para o meu chão novo.
Que porcaria! Ainda por cima, paguei ao tio Paulo Pedreiro 300 €, em notas, este verão passado para o aplicar e tinha sido acabadinho de lavar.
Da salada de orelha de porco que comeu e do garoto que sugou, garanto-vos que não foi de certeza, até porque a Taverna do Vesgo só serve produtos de elevada qualidade. Aliás, a ASAE nem cá entra porque já enviei o recado por eles, para dizerem à referida autoridade que não é sequer preciso cá virem. Aquilo deve ter sido ou de farra de fim-de-semana ou de a vida andar-lhe a correr mal. Sim, porque eu sei que a vida a estes Doutores, Engenheiros e Arquitectos às vezes corre-lhes mal. E os gajos, ressabiados, vigam-se no meu chão!
Depois deste episódio, enquanto espalhava serradura fininha pelos mosaicos para empapar aquela bodega, dei comigo a pensar “será que eu preciso e tenho mesmo de aturar estes tipos? É que nem as putas, que nunca me ficaram a dever um tostão, o fazem ou fizeram.”
Vai daí que, tendo um tempinho, parei um pouco para escrever.
Casa da Democracia: Qual?
Bem sei que vós, ilustres leitores, representam uma minoria menor que muitas minorias étnicas que temos por cá. E não estou a ser irónico.
Desde logo por lerem, algo que deveria ser trivial no nosso país, mas não o é. Depois porque, sei-o de fonte segura, têm tão-somente gosto pelo saber genuíno.
Parece um disparate o que escrevi, não é? Mas não!
Aquela lengalenga que nos contavam na escolinha, de o Homem ter uma necessidade ancestral de compreender o mundo que o rodeia, percorrendo várias etapas até culminar na ciência, ou está mal contada, ou está obsoleta ou parece que não se aplica nos tempos actuais. Pelo menos em Portugal. Porque pensar, são cada vez mais, menos aqueles que o fazem!
Não querendo ensinar o padre-nosso ao vigário, permitam-me que faça um breve resumo da história da Democracia para melhor compreenderem esta minha mensagem.
Democracia) Substantivo feminino do grego “demokratia” que designa “Governo em que a soberania é exercida pelo povo” (Sociedade da língua portuguesa, “Grande Dicionário da Língua Portuguesa”, C. Leitores, Lisboa, 1991, Tomo II).
Muito bem. Então trata-se de uma forma de governo baseada na soberania popular e na distribuição equitativa do poder.
Caracteriza-se pelo direito da população participar das decisões sobre a administração pública, ou de forma directa – Democracia Participativa, ou de forma indirecta – Democracia Representativa.
A primeira forma, a mais antiga, surgiu em Atenas no século V a.C. Após governação tirânica desde os tempos mais remotos, os cidadãos gregos passaram a decidir os destinos da “polis” na praça publica.
A base da Democracia era a igualdade entre todos os cidadãos: Igualdade perante a lei e igualdade de poderem se pronunciar na assembleia. Estas duas liberdades são os pilares do novo regime, estendidos a todos aqueles que eram considerados cidadãos. Utilizava-se um sistema de sorteio entre estes para EVITAR UMA CLASSE DE POLITICOS PROFISSIONAIS QUE ACTUASSEM DE UMA MANEIRA SEPARADA DO POVO. Por outro lado, este sistema obrigava a que qualquer um se sentisse apto a manejar os assuntos públicos, eliminando-se a alienação política dos indivíduos. Sob o ponto de vista grego, os cidadãos que se negassem a participar dos assuntos públicos em nome da sua privacidade, eram moralmente condenados. Marginalizavam-nos pelas suas apatias e idiotices!
QUEM PRECISAVA DE MUROS PARA SE PROTEGER ERA A COMUNIDADE E NÃO A CASA DESTES IDIOTAS!
Relembrando a Democracia participativa, fico-me por aqui. Apenas refiro a critica da altura a este sistema politico protagonizado por ilustres filósofos de então (e de agora), tais como Sócrates e Platão, que não aceitavam que a nave do estado fosse conduzida aleatoriamente ao sabor do acaso. Platão afirmava como exemplo que adoptar este descabido costume era o mesmo que realizar um sorteio entre marinheiros de uma embarcação em apuros para determinar qual deles a levaria a um porto seguro. Só deveriam governar os especialistas.
Esta crítica pertinente levantou, desde então até aos nossos dias, a discussão clássica em ciência politica sobre quem deve reger o estado: A maioria dos cidadãos ou somente a minoria de especialistas???
A Democracia (participativa) entrou em franco declínio após a derrota de Atenas na guerra do Peloponeso em 404 a.C., várias formas de governo lhe sucederam ao longo da história, predominantemente tirânicas.
Os ideais democráticos renascem com impacto na Revolução Gloriosa Inglesa em 1688, quando são estabelecidas as bases teóricas da divisão do poder – Executivo, Legislativo e Judicial. Reforçam-se, como sabemos, no século XVIII com o Iluminismo e a Revolução Francesa.
Surge então a Democracia Representativa que é a base das actuais Democracias Ocidentais (por favor, deixem-me os Cubanos e Chineses em paz!).
Mantendo os mesmos princípios da democracia participativa, a Democracia Representativa apenas difere desta por os cidadãos, em vez de participarem pessoalmente na assembleia, fazem-se representar nesta por outros concidadãos que elegem directamente por sufrágio universal.
Pronto! Julgo ser pouco relevante para o meu objectivo neste Post focar o sistema Americano, o Presidencialismo, o Semi-presidencialismo, a Democracia Liberal, a Social-democracia e o Socialismo.
Já perto de concluir, o que é importante salientar é que várias personalidades têm criticado o sistema democrático. Contudo, relembro aqui a célebre advertência de Churchill que enfrentou as ditaduras nazista e fascista na II Guerra Mundial:"Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a Democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos a tempos”.
Concordo inteiramente! A Democracia seja ela qual for, é uma forma de governo imperfeita. Mas é a melhor que já se conheceu! E nunca ficará perfeita. Mas pode-se e deve-se aperfeiçoá-la.
Agora, pergunto eu, como?
Pegando nos seus princípios e na sua origem.
Se a Demos Kratia é o poder exercido pelo povo e como dizia Platão, deve governar quem sabe, então só existe uma e uma só forma de esta se aperfeiçoar:
Instruindo o povo! Sei que é utópico e nunca o conseguiremos em pleno, mas é este o único caminho! Se numa sociedade só deve governar quem sabe, então ensinemos o povo a saber. Como? Com Educação, Instrução e igualdade de oportunidades para todos os cidadãos! Claro que não é de um dia para o outro, mas um século e pouco chegaria.
Em tese, a Democracia só será perfeita quando todos os cidadãos tiverem a mesma aptidão para decidir os destinos da “polis” ou de um país! É utópico? É. Mas também nada nem ninguém atingirá algum dia a perfeição que é exclusiva de Deus. Contudo, podemos e devemos caminhar neste sentido.
È aqui que entra a parte triste da história…
O caminho que a Democracia tem seguido é o oposto ao que proponho. Isto é, em vez de A SOCIEDADE, mais concretamente os seus governos, investirem fortemente na educação e instrução dos cidadãos, TUDO TÊM FEITO PARA TORNAR O POVO CADA VEZ MAIS ESTUPIDO!
Desde logo pelo péssimo exemplo que nos dão. Depois, vejam-se as manchetes da comunicação social. Isto porquê? Porque só com um povo estúpido é que os governantes conseguem PROTEGER O MURO DAS CASAS DELES, e não o interesse da comunidade…
Qual a solução?
a) Revolução popular, de preferência com o apoio militar em nome da defesa dos legítimos valores Democráticos, porque só para estúpidos é que vivemos numa Democracia;
b) Recriação do Ostracismo. O Ostracismo era uma típica instituição da Democracia ateniense para excluir da governação aqueles indivíduos que fossem uma ameaça aos princípios e valores subjacentes a esta forma de governar;
c) Qualquer grupo organizado de cidadãos (e não exclusivamente partidos) poderá submeter-se a eleições directas;
d) Restauração dos mais elementares princípios Democráticos e de um estado efectivamente de direito;
e) Prioridade obrigatória de qualquer governo – Educação, Saude, Paz, Pão e Habitação (pelo menos).

Não sou, felizmente, só eu a defender isto. Somos poucos, como é óbvio, mas bons.
Por isso,
“Pequenos deuses caseiros
que brincais aos temporais,
passam-se os dias, semanas,
os meses e os anos e vós jogais, jogais
o jogo dos tiranos.o jogo dos tiranos.
O jogo dos tiranos.

Pequenos deuses caseiros
cantai cantigas macias
tomai vossa morfina,
perdulai vossos dinheiros
derramai a vossa raiva
gozai vossas tiranias,
pequenos deuses caseiros.
Pequenos deuses caseiros.

Erguei vossos castelos
elegei vossos senhores
espancai vossos criados,
violai vossas criadas,
e bebei,
o vinho dos traidores
servido em taças roubadas
servido em taças roubadas

Dormi em colchões de pena,
dançai dias inteiros,
comprai os que se vendem,
alteai vossas janelas,
e trancai as vossas portas,
pequenos deuses caseiros,
e reforçai, reforçai as sentinelas.
E reforçai, reforçai as sentinelas.
E reforçai, reforçai as sentinelas.
E reforçai, reforçai as sentinelas.
(Manuel Freire/Sidónio Muralha, Pedra filosofal, edição de 1993)
Nota: Musica proibida pela censura”

P.S.) Não sou nem de esquerda nem de direita, nem extremista. Aliás, essa é outra questão que hei-de abordar: O espectro politico esquerda – direita está obsoleto…

domingo, 26 de outubro de 2008

Porque é Domingo

Hoje é o meu dia de folga!
Há dois dias que aqui não vinha e mesmo de futuro esta situação vai ser recorrente.
Por dois simples motivos:
Primeiro, sou daqueles que no verão não vai para o Algarve. Cada um faz o que quer, naturalmente, mas, então passo o ano todo a andar de um lado para o outro, a chamar e a ser chamado de nomes feios quando ando na estrada, e opto por descansar uma vez por ano seguindo a mesma rotina? Nã! Nada de agitações!
Vou para o norte onde o tintol, os petiscos, as pessoas, a calma e a paisagem é do melhor que há! Mas não digam a ninguém, está bem? É que “Camones”, ciganos (daqueles que traficam droga e causam distúrbios), marginais e afins, não são nada bem-vindos no Minho. Garanto-vos! Estou a falar concretamente de Vila Verde – Braga onde, há poucos anos, nada fazendo as autoridades, se criou uma milícia popular para escorraçar dali para fora um grupo mafioso de “gypsies (se fossem amarelos, cinzentos ou brancos, faziam-no na mesma)”. E fizeram-no. O Patriarca, João Garcia, queixou-se então ao S.O.S. racismo, teve todo o apoio deste e rios de artigos jornalísticos a apoiá-lo, directos televisivos, etc.
O que não se escreveu (nem se disse na TV), faço-o eu agora. É que o mesmo senhor está preso por tráfico de drogas e armas… Bom, é um facto que deve ser dos poucos no nosso país…
Segundo, perdoem-me. Não sou burro, só vesgo e um bocado lento.
Alguns Blogues começam a ser um pouco como as telenovelas da TVI. Escrevem-se rios de pensamentos/hora, mais ou menos apelativos, mas se visitarmos os mesmos uma semana depois, a história é a mesma. Porque tudo é o mesmo! Nada mudou de facto!
CALMA para mim! As coisas não são para se fazerem, são para se irem fazendo.
Posso perder o comboio? Hã, já perdi muitos. Até já entrei num, no Cais-do-Sodré, e em vez de sair em Oeiras fui acordado pelo “Picas” em Cascais…
Além disso, não sou melhor ou pior que ninguém. Só diferente da maioria, até pela vesgueira.
Não suporto esta competitividade vigente onde só os tipos com 19-20 valores podem ir para Medicina. Depois, mandam-se vir médicos estrangeiros. Na minha leitura, são os mais atrofiados e os que menos convivem socialmente. Resultado? Temos tipos nos hospitais que nos vêm como uma interacção entre glícidos, lipidos e prótidos. Sabem imenso de corpo humano mas nada sobre o Ser. Isto é, naturalmente, bom para os espertalhões que tratam os maus-olhados e a impotência sexual com chás.
E a prova está ai. Estes são cada vez são mais procurados…
Não cometo o disparate de me comparar a Descartes (credo!...) mas aprendi a questionar quase tudo. E, em consequência disso, há-de se saber porquê, ando quase sempre em contra-mão! Não é muito grave porque já me habituei a desviar-me.
Hoje, igualmente, fui comprar o “Expresso” (ainda sou desses totós)!
E, enquanto aguardava na fila do quiosque, contemplava os Quilogramas de capas expostas na banca. “Meu Deus” – pensei. – “O que é que vai nas cabeças de quem compra e lê isto! Será que nada mais os preocupa? Serei só eu?...”
Claro que não sou só eu. Felizmente somos alguns.
“O homem (quando nasce) é o meio-termo entre a besta e o divino”. Ao longo da vida, opta para ir mais para um lado ou para o outro. Num ou noutro sentido. Sucede que a maioria “foge” para o animalesco. Tornam-se tipos com diferenças irrelevantes em relação aos demais primatas.
No fundo, aquela imagem do iceberg de Freud, não se aplica a todos porque estes tipos de que falo são só “pulsões”.
É uma multidão de “inconscientes” que nem aparece à tona da água!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ARRANQUE




Hoje é o meu dia de estreia!
E, sinceramente, sinto-me como naqueles dias em que acordamos de manhã e, com tantos afazeres, nem sabemos por onde começar. Quando assim é, mandam as regras que hierarquizemos por ordem decrescente a importância das coisas e comecemos pela primeira.
E qual é a primeira?
Costuma ser aquela treta da apresentação cujo objectivo é dizermos quem somos, ao que vimos e porquê.
Vou passar por cima daquela parte do “quando eu nasci…” e “…tenho 5 filhos…” ou …” a minha mulher encornou-me com o leiteiro quando eu estava no estrangeiro…”. Não, senão o Google começava, de certeza, a cobrar-me à peça.
Sou Vesgo mas não sou estúpido. Depois de um passado algo atribulado que a seu tempo saberão, cuido agora de uma Taverna ou Tasca (como queiram), que é uma actividade secular neste país e que é das poucas que tem cada vez mais futuro. Ainda por cima, a localização é excelente: Em frente ao Parlamento onde pairam ilustres putas, chulos, tipos de cor, bêbados e, frequentemente, gentinha proveniente da casa em frente. Hã, e visitantes.
E esta é, como se diz, a respectiva homepage (http://www.tavernadovesgo.blogspot.com). Que está, desde já, aberta a todos!
Feita a apresentação, lamento dizer-vos que o objectivo desta página não é nada original. Também nunca o poderia ser. Quem tem uns anitos de vida e se preocupou por ir aprendendo algumas coisas, nada viu que fosse efectivamente original. Não digo que não venha a haver. Seria óptimo! Contudo, a originalidade é um pouco como os E.Ts: Existem, vêem-se mas não há um só indício credível que o comprove. Quanto muito – e isto sim é recorrente, existem génios que, mesmo em ciência, conseguem reformular, às vezes acrescentando um ou dois pontos, aquilo que se fez, disse ou escreveu, dezenas, centenas ou milhares de anos atrás.
Ora escritos, via novas tecnologias ou tradicional, a denunciar aberrações sociais e a tentar propor soluções, existem aos milhares!
Sucede que em Portugal (estou-me a borrifar como é nos outros países), contam-se pelos dedos, vá lá, das duas mãos, os tipos governantes que pensassem a sociedade e soubessem governar. É o mundo ao contrário!
Sempre tivemos o que de melhor existe no mundo em ciências sociais e (ditas) exactas, artes, com destaque para a literatura, e muito raramente essas personalidades tiveram hipótese de praticar no terreno as suas ideias. Foram perseguidos ou piraram-se (piram-se), quanto muito.
Pessoalmente, não sou fatalista. Acredito nas revoluções. Verdadeiras.
E, da minha parte, tudo farei para que ela aconteça em Portugal.
Neste momento, para mim, vale tudo mesmo tirar olhos.
É que a nossa sociedade não está podre. Já passou essa fase, porque perdeu o cheiro. Está, simplesmente, mumificada.