segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Construção...



(Chico Buarque)

Amou daquela vez como se fosse a ultima
Beijou sua mulher como se fosse a ultima
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse maquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho magico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um naufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse musica
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio publico
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o ultimo
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes magicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse maquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse musica
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio naufrago
Morreu na contramão atrapalhando o publico

Amou daquela vez como se fosse maquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

(Será que, hoje, tudo é assim tão diferente?... Vesgo)

Sem comentários: